domingo, 27 de janeiro de 2008

Because laughter is underrated

"(...)
- Sei que me pode ajudar a ter uma hora de conversa agradável - disse
- Claro que sim, simpático. Desejas alguma coisa em concreto?
- Gostaria de discutir Melville.
(...)
- Em quanto ficaria?
- Cinquenta, talvez cem por Melville. Que dizes a uma discussão comparada, Melville e Hawthorne? Poderia arranjar-te isso por cem.
- Acho que está bem. (...)
- Preferes loura ou morena?
- Faz-me uma surpresa- disse-lhe e desliguei.

(...)
Não havia dúvida que sabiam apelar para a fantasia de uma pessoa. Cabelo comprido solto, bolsa de cabedal, brincos de prata, sem maquilhagem.
(...)
Acendeu um cigarro e foi directa ao assunto,
- Creio que poderás começar considerando Billy Budd uma justificação melvilliana dos caminhos de Deus em relação ao homem, n'est-ce pas?
(...)
Deixei-a continuar. Mal teria dezanove anos mas mostrava possuir já a ductilidade calejada do pseudo-intelectual. Expunha as ideias com lábia, mas no fundo era tudo mecânico. Cada vez que lhe oferecia uma ideia, fingia prazer:
- Oh Kaiser. Sim, borracho, isso é profundo. Uma compreensão platónica do cristianismo... como é que eu não vi isso antes?

Falámos durante cerca de uma hora e então disse-me que tinha que ir embora. Levantou-se e eu passei-lhe uma nota de cem para as mãos.
(...)
Era a altura de começar a apertar as tarraxas, Saquei da minha insígnia de investigador privado e informei-a de que tinha caído numa cilada.
- O quê?
- Sou chui, doçura, e discutir Melville a dinheiro é um oitocentos e dois. Vai ser uma boa temporada.
- Sabujo (...)"
:)
Boa semana!

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